Escrito por: Vivian Fischer a
Arthur Fernandes Bettencourt b
Aline
Cardoso Vieira c
a
Professora Titular do Departamento de Zootecnia da UFRGS,
Doutora em Zootecnia.
b
Aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da
UFRGS.
c Aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFRGS.
Os efeitos negativos do estresse
térmico podem ser divididos em diretos, como alterações 1) comportamentais -
traduzidas pelo aumento na ocorrência de eventos agressivos pela competição por
água e sombra, maior tempo em ócio, redução no pastoreio diurno e aumento no
noturno e maior ingestão de água; 2) fisiológicas, como aumento da frequência
respiratória e cardíaca e temperatura corporal; 3) redução no consumo de alimentos e 4)
alterações digestivas, como a acidose ruminal além de alterações metabólicas
como alcalose respiratória e acidose metabólica.
O menor consumo de alimentos,
desacoplamento de rotas metabólicas e maior gasto de energia para dissipar o
excesso de calor fazem com que as vacas estressadas termicamente reduzam a
produção leiteira em 20-50%.
As vacas também alteram a
composição do leite. Em função da menor síntese de componentes, as
concentrações de proteína e gordura são reduzidas (Silanikove et al., 2009). A
acidose ruminal e metabólica aumenta a concentração de cálcio iônico no leite
(Marques et al., 2011), reduzindo as cargas negativas das micelas de caseína e
a força eletrostática de repulsão entre elas, o que facilita a coagulação do
leite ao etanol e/ou durante o processamento industrial (Fagnani et al., 2014; Werncke,
2018).
Em experimento com vacas
Holandesas, com e sem acesso à sombra, na cidade de Itapiranga – SC, Abreu
(2015) verificou que animais com acesso à área sombreada ofegaram menos (Figura
1) e produziram cerca de 38% a mais de leite em comparação aos animais sem
acesso à sombra (Figura 2).
Figura 1. Vaca sem acesso à sombra. Elevada frequência respiratória e escore de ofegação.
Fonte: Abreu (2015).
Figura 2. Produção de leite diária,
estabilidade no teste do álcool e acidez de vacas com e sem acesso à sombra sob
estresse térmico
Fonte: Abreu (2015).
A privação de sombra reduziu a
estabilidade do leite ao texto do álcool abaixo do valor mínimo permitido pelas
IN 76/77 (MAPA), aumentou o teor de gordura e diminuiu os teores de proteína
(Quadro 1). Além disso, animais com restrição à sombra produziram leite com
maior acidez titulável.
Quadro
1. Valores médios da produção leiteira e atributos físico-químicos do leite de
vacas com (CS) ou sem acesso (SS) à sombra.
Atributo |
Trat |
Dias |
||||
Estresse |
Pós
(recuperação) |
|||||
14 |
22 |
24 |
31 |
38 |
||
Produção
de leite (L) |
SS |
20,5 a A |
19,7
a A |
13,0
b B |
21,4
a A |
21,7
a A |
CS |
19,9 a A |
18,9
a A |
19,6
a A |
20,6
a A |
20,4
a A |
|
Álcool
(%v/v) |
SS |
73,6
a A |
70,6
b AB |
67,9
b B |
71,6
b AB |
74,6
a A |
CS |
77,2
a A |
76,8
a A |
74,9
a A |
76,8
a A |
75,9
a A |
|
Gordura
bruta (g/100g) |
SS |
3,34
a B |
3,66
a AB |
3,89
a A |
3,53
a AB |
3,34
a B |
CS |
3,58
a A |
3,27
b A |
3,45
b A |
3,56
a A |
3,53
a A |
|
Proteína
bruta (g/100g) |
SS |
2,89
b B |
2,84
b B |
2,64
b C |
3,05
a A |
3,10 a A |
CS |
3,04
a AB |
2,98
a B |
3,04
a AB |
3,12
a A |
3,10
a AB |
|
Lactose
(g/100g) |
SS |
4,40
a A |
4,39
a AB |
4,18
b C |
4,39
a AB |
4,24
a BC |
CS |
4,39
a AB |
4,35
a AB |
4,35
a AB |
4,40
a A |
4,26
a B |
|
Ácidez
titulável (°D) |
SS |
15,3
a C |
18,4
a B |
22,4
a A |
16,4
a BC |
15,9
a BC |
CS |
15,1
a A |
15,3
b A |
15,7
b A |
15,8
a A |
15,8
a A |
a
e b são avaliados na coluna, enquanto que A e B são avaliados na linha.
Diferentes letras na coluna ou diferentes letras na linha representam diferença
significativa (P<0,05). Fonte: Adaptado de Abreu (2015).
A
área de sombra também é importante, quando reduzida (2 m2/vaca)
aumenta as interações agressivas entre os animais e diminui o tempo de descanso
deitada (Stivanin et al., 2019).
Mensagens para levar para casa:
1. O
estresse térmico REDUZ a produção leiteira, altera a composição do leite e diminui
a estabilidade do leite, podendo causar a rejeição do mesmo pela indústria.
2. É
necessário prover sombra às vacas em quantidade (área) e qualidade.
3. Animais
alojados em galpão também podem sofrer estresse térmico. É NECESSÁRIO lançar
mão de tecnologias como ventiladores e aspersores.
Referências
ABREU,
A. S. Fatores nutricionais e não nutricionais que afetam a composição do
leite bovino. 2015. 251 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em
Zootecnia, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, RS, 2015.
FAGNANI, R.; BELOTI, V.;
BATTAGLINI, A.P. Acid-base balance of dairy cows and its
relationship with alcoholic stability and mineral composition of milk.
Pesquisa
Veterinária Brasileira, v.34, n.5, p.398-402, 2014. https://doi.org/10.1590/S0100-736X2014000500002
MARQUES,
L.T.; FISCHER, V.; ZANELA, M.B. et al. Produção leiteira,
composição do leite e perfil bioquímico sanguíneo de vacas lactantes sob
suplementação com sal aniônico. Revista Brasileira de Zootecnia.
v. 40, p. 1088-1094, 2011. https://doi.org/10.1590/S1516-35982011000500021
SILANIKOVE,
N. Acute heat stress brings down milk
secretion in dairy cows by up-regulating the activity of the milk-borne
negative feedback regulatory system. BMC Physiology, London, v. 9, n.13, p 1-9. 2009.
STIVANIN, S. C. B. et
al. Variation
in available shaded area changes behaviour parameters in grazing dairy cows
during the warm season. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.
48, 2019. http://dx.doi.org/10.1590/rbz4820180316
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