terça-feira, 15 de setembro de 2020

O que são os sistemas remotos de monitoramento comportamental de vacas leiteiras?

 Escrito por: Aline Cardoso Vieira a

                  Vivian Fischer b

a Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da UFRGS.

b Professora Titular do Departamento de Zootecnia da UFRGS, Doutora em Zootecnia.

 

Ao longo dos anos se observa o desenvolvimento e crescimento constante na cadeia produtiva do leite. Embora esteja ocorrendo uma redução no número de produtores, o número de vacas por rebanho e a produtividade vem aumentando (Gargiulo et al., 2018). As vacas se tornaram mais exigentes nutricionalmente e em termos de conforto térmico, e quando não tem suas necessidades atendidas, ficam mais suscetíveis a doenças, o que ocorre com mais frequência no período de transição (21 dias antes do parto e 21 dias após) (Stangaferro et al., 2016). Os estros, ficaram mais difíceis de serem visualizados, por ocorrerem durante a noite, serem mais curtos ou até mesmo sem sinais aparentes, ou seja, cio silencioso (Mayo et al., 2019).

Ao longo dos últimos anos, tecnologias de automação e monitoramento vem sendo disponibilizadas ao setor produtivo. Ordenhas robóticas conseguem fornecer corretamente a quantidade de alimento que a vaca precisa comer e ainda medir a produção individual diariamente (Broucek and Tongel, 2018). Outros sistemas registram o movimento das vacas e traduzem esses movimentos em comportamentos como ruminação, atividade, descanso ou mensuram de foram precisa a ingestão de alimento e água, como é o caso dos cochos/bebedouros automáticos. Esses sistemas se apresentam de várias formas, como brincos, tornozeleiras e coleiras, mas apresentam uma característica em comum, serem equipados com sensores para captar o movimento dos animais (Eckelkamp and Bewley, 2020).




Você já imaginou saber facilmente que uma vaca, no meio do rebanho, está em risco de ficar doente ou está em cio, isso sendo possível porque você recebeu um alerta no telefone ou computador antes mesmo de sair de casa?

Pois bem, isso é possível com as tecnologias que temos hoje.

Inicialmente esses sistemas de monitoramento foram pensados para facilitar a detecção do estro, diante de sua importância na bovinocultura e das dificuldades que os produtores enfrentam (Dolecheck et al., 2015). Porém com o tempo, outras possibilidades surgiram e hoje os sistemas já são reconhecidos, foram testados e comprovados como ferramentas para identificar animais com risco maior de ficarem doentes (Steensels et al., 2017). Vacas em estro apresentam maior tempo de atividade, enquanto que vacas com risco de ficarem doentes, mesmo que ainda assintomáticas, normalmente reduzem o tempo de ruminação e atividade (Kaufman et al., 2016).

Há aqui inúmeras possibilidades. Vários desses sistemas remotos de monitoramento comportamental de vacas fornecem pelo menos o tempo de ruminação e atividade das vacas. Coletando constantemente as informações dos comportamentos, os sistemas utilizam algoritmos complexos e sofisticados para transcrever e traduzir esses comportamentos para o produtor, emitindo alertas, que identificam os animais (Grinter et al., 2019), reduzindo o tempo de monitoramento pelos produtores assim como o custo, pois podem reduzir  o número de testes e avaliações a serem feitos. Os sistemas atuam diariamente, 24 horas por dia monitorando os animais e assim conseguem suprir os olhos e ouvidos do produtor (Eckelkamp and Bewley, 2020).

Os sistemas remotos de monitoramento comportamental podem prestar um auxilio importante para o produtor de leite. Afinal, quanto custa o descarte de leite, fruto de um tratamento de mastite, ou a perda de um animal por qualquer doença que poderia ser tratada se o produtor conseguisse iniciar o tratamento ainda nos primeiros sintomas, ou quanto o produtor está perdendo a cada cio perdido, tanto em produção quanto em viabilidade econômica.

Mas claro, esses sistemas de monitoramento representam um custo na propriedade que precisa ser levado em consideração e considerado como um investimento. Cada produtor deve conhecer sua fazenda e avaliar suas necessidades e condições antes de decidir implementar um sistema desses no seu dia a dia (Borchers and Bewley, 2015). Os sistemas de monitoramento, também, não são uma solução única e individualizada, são ferramentas com as quais o produtor precisa aprender a trabalhar e se adaptar para que realmente faça a diferença.

Nós do NUPLAC gostaríamos de saber o que você, produtor:

Ø  O que você pensa sobre os sistemas remotos de monitoramento comportamental das vacas?

Ø  Você utiliza ou tem interesse em utilizar um desses sistema de monitoramento?

Ø  Se você usa, o que tem a nos dizer sobre a utilização e adaptação a ferramenta?

 

Nos conte respondendo o questionário eletrônico a baixo:


Questionário sobre utilização de sistemas remotos de monitoramento comportamental


Referências:

 

Borchers, M.R., Bewley, J.M., 2015. An assessment of producer precision dairy farming technology use, prepurchase considerations, and usefulness. J. Dairy Sci. 98, 4198–4205. https://doi.org/10.3168/jds.2014-8963

Broucek, J., Tongel, P., 2018. Robotic Milking and Dairy Cows Behaviour. pp. 33–38. https://doi.org/10.1109/ICCAIRO.2017.16

Dolecheck, K.A., Silvia, W.J., Heersche G., J., Chang, Y.M., Ray, D.L., Stone, A.E., Wadsworth, B.A., Bewley, J.M., 2015. Behavioral and physiological changes around estrus events identified using multiple automated monitoring technologies. J. Dairy Sci. 98, 8723–8731. https://doi.org/10.3168/jds.2015-9645

Eckelkamp, E.A., Bewley, J.M., 2020. On-farm use of disease alerts generated by precision dairy technology. J. Dairy Sci. 103, 1566–1582. https://doi.org/10.3168/jds.2019-16888

Gargiulo, J.I., Eastwood, C.R., Garcia, S.C., Lyons, N.A., 2018. Dairy farmers with larger herd sizes adopt more precision dairy technologies 101, 5466–5473. https://doi.org/10.3168/jds.2017-13324

Grinter, L.N., Campler, M.R., Costa, J.H.C., 2019. Technical note: Validation of a behavior-monitoring collar’s precision and accuracy to measure rumination, feeding, and resting time of lactating dairy cows. J. Dairy Sci. 102, 3487–3494. https://doi.org/10.3168/jds.2018-15563

Kaufman, E.I., LeBlanc, S.J., McBride, B.W., Duffield, T.F., DeVries, T.J., 2016. Association of rumination time with subclinical ketosis in transition dairy cows. J. Dairy Sci. 99, 5604–5618. https://doi.org/10.3168/jds.2015-10509

Mayo, L.M., Silvia, W.J., Ray, D.L., Jones, B.W., Stone, A.E., Tsai, I.C., Clark, J.D., Bewley, J.M., Heersche G., J., 2019. Automated estrous detection using multiple commercial precision dairy monitoring technologies in synchronized dairy cows. J. Dairy Sci. 102, 2645–2656. https://doi.org/10.3168/jds.2018-14738

Stangaferro, M.L., Wijma, R., Caixeta, L.S., Al-Abri, M.A., Giordano, J.O., 2016. Use of rumination and activity monitoring for the identification of dairy cows with health disorders: Part III. Metritis. J. Dairy Sci. 99, 7395–7410. https://doi.org/10.3168/jds.2016-10908

Steensels, M., Maltz, E., Bahr, C., Berckmans, D., Antler, A., Halachmi, I., 2017. Towards practical application of sensors for monitoring animal health: the effect of post-calving health problems on rumination duration, activity and milk yield. J. Dairy Res. 84, 132–138. https://doi.org/10.1017/S0022029917000176


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