Escrito por: Lisiane Garciaa
Vivian Fischerb
aAluna de mestrado do departamento de Pós Graduação em Zootecnia
da UFRGS
bProfessora titular do Departamento de Zootecnia da UFRGS
A nutrição de vacas em
lactação é um desafio para técnicos e produtores, tendo em vista que a
categoria precisa ter suas exigências nutricionais atendidas para ter condições
de lactar, ciclar para nova gestação, para a mantença e continuar se
desenvolvendo, em caso de primíparas. Há
várias ferramentas que auxiliam o produtor a formular e balancear a dieta
desses animais. As exigências energéticas podem ser expressos como a quantidade
de nutrientes digestíveis totais (NDT), que ainda é amplamente utilizado, pois
pode ser facilmente determinado por análise de alimentos (Weiss, 1998).
Níveis de energia distintos
na dieta de vacas em lactação modificam os níveis de produção (Reid et al.,
2015), composição química do leite (Sova et al., 2014), peso vivo e escore de
condição corporal (Weber et al., 2015), entretanto não há muitos trabalhos que
avaliem o efeito da redução dos níveis de energia da dieta de vacas em lactação
na estabilidade do leite ao etanol. Então, com o objetivo de avaliar a mudança
na produção e nas características físico-químicas do leite foram conduzidos 7 estudos,
de 2004 e 2011, com parceria entre o grupo Pesquisa de gado leiteiro e
comportamento animal (NUPLAC), Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Foram avaliadas 132 vacas em diferentes
estágios de lactação. Foram feitas 392 observações referentes aos diferentes
níveis de consumo de energia por estes animais.
A Tabela 1 mostras
informações sobre os sete diferentes testes de alimentação dados aos animais no
período dos experimentos, a composição da dieta fornecida, a duração do
experimento, o número e a raça dos animais utilizados, o peso vivo dos animais
e a produção média diária de leite por vaca e o período de lactação.
Tabela 1: Características dos experimentos alimentares
Foram avaliadas as variáveis níveis de fornecimento de energia (% NDT da dieta), período de alimentação (número de dias), raça , produção diária de leite, gordura, proteína e teores de lactose, porcentagem de sólidos totais (ST), escore de células somáticas (SCS), acidez titulável e o teste de estabilidade ao etanol, tendo a maior concentração de etanol necessária para a coagulação da amostra de leite.
Não houve associação entre os componentes do leite com os níveis de energia, a porcentagem de etanol necessário para coagular o leite, o teor de lactose e a produção de leite. Entretanto, os níveis de energia na dieta foram positivamente associados com produção de leite, estabilidade do leite e teor de lactose, como mostra a Figura 1.
Figura 1: Variáveis (nível de suplemento de energia, duração do experimento, produção de leite e características físico-químicas) projetadas no fator principal 1 e 2
As 392 observações foram agrupadas em 3 conjuntos de dados de acordo com a semelhança entre as observações. Os grupos apresentavam 115, 135 e142 observações. Esses 3 grupos são respectivamente referentes aos cluster 1, 2 e 3 da Figura 2.
Figura 2: Médias canônicas padronizadas de atributos produtivos e características físico-químicas do leite de vacas alimentadas com diferentes níveis de energia
Os fatores mais relevantes
para agrupar as observações foram o nível de suprimento de energia, teor total
de sólidos e acidez titulável de leite. Os atributos mais importantes que
explicam a variação entre os grupos foram o nível de fornecimento energia,
estabilidade do leite, produção de leite e contagem de células somáticas (SCS);
gordura, lactose e teor total de sólidos; e duração dos ensaios, acidez e teor
de proteínas para os clusters 1, 2 e3, respectivamente. Isso se explica porque o aumento no
suprimento de nutrientes via dieta resulta em maior disponibilidade de
nutrientes para a glândula mamária, aumentando a produção leiteira (Lemosquet
et al., 2009). De acordo com Giallongoet al. (2015), o aumento no suprimento de
energia nem sempre afeta composição físico-química do leite, pois essa relação
vai depender do nível de energia original, potencial produtivo da vaca, estágio
de lactação e incremento líquido da energia fornecida (Benchaar et al., 2014;
Boerman et al., 2015;Broderick et al., 2015).
A produção de leite diária
aumentou com a suplementação de NDT. O leite apresentou maior estabilidade
quando os níveis de NDT foram fornecidos em níveis médio e alto. Riuset al. (2010)
relataram que um alto nível de energia suplementada como amido resulta em maior
produção de leite e síntese proteica, atribuída ao aumento da secreção de
insulina e fator de crescimento. Contudo, observou-se uma redução do teor de
proteína do leite no grupo 3 mesmo com o maior aporte de NDT. Nesse caso, pode ter havido o efeito de diluição da
concentração de proteina devido ao aumento do volume de leite em 40%, bem como
por uma proporção maior de vacas holandesas no grupo em comparação com a
predominância de vacas Jersey dos grupos 1 e 2. O maior teor de gordura do
leite observado no grupo 2 do que no grupo 3, pode ter resultado do maior uso
de forragens, que por sua vez aumentou o teor de fibra da dieta.
O aumento do nível de
energia fornecida às vacas leiteiras aumenta o volume de leite produzido, o
teor de lactose e a estabilidade do leite no teste de etanol, mas não
influencia outros compoenentes lácteos ou a saúde do úbere.
Artigo base
A.M.
Gabbi; C.M. McManus; L.T. Marques; A.S. Abreu; S.C. Machado; M.B. Zanela; R.S. Barbosa and V. Fischer. (2018)
Different levels of supplied energy for lactating cows affect physicochemical
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11–17. DOI: https://doi.org/10.22358/jafs/83703/2018
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