quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Parâmetros fisiológicos para estresse térmico em gado leiteiro

Escrito por: Juliany Ardenghi Guimarães  a

        Vivian Fischer b

Graduanda no curso de Zootecnia na UFRGS.

Professora Titular do Departamento de Zootecnia da UFRGS, Doutora em Zootecnia.


A seleção de animais para produção de leite reduz a capacidade da vaca para suportar o estresse causado pelo calor, assim aumentando a suscetibilidade ao estresse térmico e diminuindo produção (Vasconcelos and Demetrio, 2011). Vacas provenientes de cruzamento de animais de raças europeias com raças zebuínas são a maioria no país, e apresentam maior resistência ao estresse térmico quando comparadas a vacas puras europeias, porém a sua produtividade é o fator isolado  mais importante que influencia a sua tolerância ao calor  (Alvim et al., 2005).

 


O Nuplac participou de um estudo junto à Embrapa CNPGL, em Coronel Pacheco, Minas Gerais para identificar os indicadores de estresse por calor em vacas com grau de sangue Holandês, e cruzadas com Gir. Foram utilizadas 38 vacas em lactação: 19 de raça pura Holandês (HO) e 19 Girolando (08 ½ HO e 11 ¾ HO). A coleta de dados foi realizada em três dias consecutivos, os procedimentos experimentais consistiram em induzir estresse por calor expondo vacas em um ambiente sem sombra, com água a vontade, entre as ordenhas da manhã e da noite.

 

Vacas Holadês e ¾ Holandês apresentaram maiores valores de FC, TR, FR, EO que as vac as ½ Holandês, e portanto foram menos tolerantes ao calor. Os valores apresentados se situam acima dos valores descritos na faixa de temperatura termoneutra, indicando estresse térmico.

Tabela 1.  Valores médios dos parâmetros fisiológicos dos grupos sob estresse térmico


FC – Frequência cardíaca; TR – Temperatura retal; FT – Frequência respiratória; EO – Escore de ofegação; ERI – Eritrócito; HEMO – Hemoglobina; HT – Hematócrito; HO- Holandesa                              

  ¹ - Fonte Silanikove (2000) e Dukes (1996).


Artigo base: 

Dalcin, V. C.; Fischer, V.; Daltro, D. S.; Alfonzo, E. P. M.; Stumpf, M. T.; Kolling, G. J.; Silva, M. V. G. B.; McManus, C. Physiological parameters for thermal stress in dairy cattle. R. Bras. Zootec., 45(8):458-465, 2016.

 

Referencias:

 

Vasconcelos, J. L. M. and Demetrio, D. G. B. 2011. Manejo reprodutivo de vacas sob estresse calórico. Revista Brasileira de Zootecnia 40:396-401.

Alvim, M. J.; Paciullo, D. S. C.; Carvalho, M. M.; Aroeira, L. J. M.; Carvalho, L. A.; Novaes, L. P.; Gomes, A. T.; Miranda, J. E. C.; Ribeiro, A. C. C. L. 2005. Sistema de produção de leite com recria de novilhas em sistemas silvipastoris. Available at: <https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Leite/LeiteRecriadeNovilhas/index.htm >. Acessado em: 04 de setembro, 2020.  


terça-feira, 15 de setembro de 2020

O que são os sistemas remotos de monitoramento comportamental de vacas leiteiras?

 Escrito por: Aline Cardoso Vieira a

                  Vivian Fischer b

a Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da UFRGS.

b Professora Titular do Departamento de Zootecnia da UFRGS, Doutora em Zootecnia.

 

Ao longo dos anos se observa o desenvolvimento e crescimento constante na cadeia produtiva do leite. Embora esteja ocorrendo uma redução no número de produtores, o número de vacas por rebanho e a produtividade vem aumentando (Gargiulo et al., 2018). As vacas se tornaram mais exigentes nutricionalmente e em termos de conforto térmico, e quando não tem suas necessidades atendidas, ficam mais suscetíveis a doenças, o que ocorre com mais frequência no período de transição (21 dias antes do parto e 21 dias após) (Stangaferro et al., 2016). Os estros, ficaram mais difíceis de serem visualizados, por ocorrerem durante a noite, serem mais curtos ou até mesmo sem sinais aparentes, ou seja, cio silencioso (Mayo et al., 2019).

Ao longo dos últimos anos, tecnologias de automação e monitoramento vem sendo disponibilizadas ao setor produtivo. Ordenhas robóticas conseguem fornecer corretamente a quantidade de alimento que a vaca precisa comer e ainda medir a produção individual diariamente (Broucek and Tongel, 2018). Outros sistemas registram o movimento das vacas e traduzem esses movimentos em comportamentos como ruminação, atividade, descanso ou mensuram de foram precisa a ingestão de alimento e água, como é o caso dos cochos/bebedouros automáticos. Esses sistemas se apresentam de várias formas, como brincos, tornozeleiras e coleiras, mas apresentam uma característica em comum, serem equipados com sensores para captar o movimento dos animais (Eckelkamp and Bewley, 2020).




Você já imaginou saber facilmente que uma vaca, no meio do rebanho, está em risco de ficar doente ou está em cio, isso sendo possível porque você recebeu um alerta no telefone ou computador antes mesmo de sair de casa?

Pois bem, isso é possível com as tecnologias que temos hoje.

Inicialmente esses sistemas de monitoramento foram pensados para facilitar a detecção do estro, diante de sua importância na bovinocultura e das dificuldades que os produtores enfrentam (Dolecheck et al., 2015). Porém com o tempo, outras possibilidades surgiram e hoje os sistemas já são reconhecidos, foram testados e comprovados como ferramentas para identificar animais com risco maior de ficarem doentes (Steensels et al., 2017). Vacas em estro apresentam maior tempo de atividade, enquanto que vacas com risco de ficarem doentes, mesmo que ainda assintomáticas, normalmente reduzem o tempo de ruminação e atividade (Kaufman et al., 2016).

Há aqui inúmeras possibilidades. Vários desses sistemas remotos de monitoramento comportamental de vacas fornecem pelo menos o tempo de ruminação e atividade das vacas. Coletando constantemente as informações dos comportamentos, os sistemas utilizam algoritmos complexos e sofisticados para transcrever e traduzir esses comportamentos para o produtor, emitindo alertas, que identificam os animais (Grinter et al., 2019), reduzindo o tempo de monitoramento pelos produtores assim como o custo, pois podem reduzir  o número de testes e avaliações a serem feitos. Os sistemas atuam diariamente, 24 horas por dia monitorando os animais e assim conseguem suprir os olhos e ouvidos do produtor (Eckelkamp and Bewley, 2020).

Os sistemas remotos de monitoramento comportamental podem prestar um auxilio importante para o produtor de leite. Afinal, quanto custa o descarte de leite, fruto de um tratamento de mastite, ou a perda de um animal por qualquer doença que poderia ser tratada se o produtor conseguisse iniciar o tratamento ainda nos primeiros sintomas, ou quanto o produtor está perdendo a cada cio perdido, tanto em produção quanto em viabilidade econômica.

Mas claro, esses sistemas de monitoramento representam um custo na propriedade que precisa ser levado em consideração e considerado como um investimento. Cada produtor deve conhecer sua fazenda e avaliar suas necessidades e condições antes de decidir implementar um sistema desses no seu dia a dia (Borchers and Bewley, 2015). Os sistemas de monitoramento, também, não são uma solução única e individualizada, são ferramentas com as quais o produtor precisa aprender a trabalhar e se adaptar para que realmente faça a diferença.

Nós do NUPLAC gostaríamos de saber o que você, produtor:

Ø  O que você pensa sobre os sistemas remotos de monitoramento comportamental das vacas?

Ø  Você utiliza ou tem interesse em utilizar um desses sistema de monitoramento?

Ø  Se você usa, o que tem a nos dizer sobre a utilização e adaptação a ferramenta?

 

Nos conte respondendo o questionário eletrônico a baixo:


Questionário sobre utilização de sistemas remotos de monitoramento comportamental


Referências:

 

Borchers, M.R., Bewley, J.M., 2015. An assessment of producer precision dairy farming technology use, prepurchase considerations, and usefulness. J. Dairy Sci. 98, 4198–4205. https://doi.org/10.3168/jds.2014-8963

Broucek, J., Tongel, P., 2018. Robotic Milking and Dairy Cows Behaviour. pp. 33–38. https://doi.org/10.1109/ICCAIRO.2017.16

Dolecheck, K.A., Silvia, W.J., Heersche G., J., Chang, Y.M., Ray, D.L., Stone, A.E., Wadsworth, B.A., Bewley, J.M., 2015. Behavioral and physiological changes around estrus events identified using multiple automated monitoring technologies. J. Dairy Sci. 98, 8723–8731. https://doi.org/10.3168/jds.2015-9645

Eckelkamp, E.A., Bewley, J.M., 2020. On-farm use of disease alerts generated by precision dairy technology. J. Dairy Sci. 103, 1566–1582. https://doi.org/10.3168/jds.2019-16888

Gargiulo, J.I., Eastwood, C.R., Garcia, S.C., Lyons, N.A., 2018. Dairy farmers with larger herd sizes adopt more precision dairy technologies 101, 5466–5473. https://doi.org/10.3168/jds.2017-13324

Grinter, L.N., Campler, M.R., Costa, J.H.C., 2019. Technical note: Validation of a behavior-monitoring collar’s precision and accuracy to measure rumination, feeding, and resting time of lactating dairy cows. J. Dairy Sci. 102, 3487–3494. https://doi.org/10.3168/jds.2018-15563

Kaufman, E.I., LeBlanc, S.J., McBride, B.W., Duffield, T.F., DeVries, T.J., 2016. Association of rumination time with subclinical ketosis in transition dairy cows. J. Dairy Sci. 99, 5604–5618. https://doi.org/10.3168/jds.2015-10509

Mayo, L.M., Silvia, W.J., Ray, D.L., Jones, B.W., Stone, A.E., Tsai, I.C., Clark, J.D., Bewley, J.M., Heersche G., J., 2019. Automated estrous detection using multiple commercial precision dairy monitoring technologies in synchronized dairy cows. J. Dairy Sci. 102, 2645–2656. https://doi.org/10.3168/jds.2018-14738

Stangaferro, M.L., Wijma, R., Caixeta, L.S., Al-Abri, M.A., Giordano, J.O., 2016. Use of rumination and activity monitoring for the identification of dairy cows with health disorders: Part III. Metritis. J. Dairy Sci. 99, 7395–7410. https://doi.org/10.3168/jds.2016-10908

Steensels, M., Maltz, E., Bahr, C., Berckmans, D., Antler, A., Halachmi, I., 2017. Towards practical application of sensors for monitoring animal health: the effect of post-calving health problems on rumination duration, activity and milk yield. J. Dairy Res. 84, 132–138. https://doi.org/10.1017/S0022029917000176


sábado, 5 de setembro de 2020

Alterações no escore de locomoção e sensibilidade à dor de vacas leiteiras

 Escrito por: Júlia Fernandes Airesa

                   Vivian Fischerb

a Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da UFRGS.

b Professora Titular do Departamento de Zootecnia da UFRGS, Doutora em Zootecnia.

 

O sentimento dos animais de produção vem sendo objeto de muitos estudos, principalmente a dor, e o quanto ela afeta o bem-estar e o comportamento natural dos animais. A dor não é algo simples de identificar e quantificar, pois é considerada uma condição subjetiva. A claudicação é um sinal clínico comum a várias doenças que afetam o casco, provocando mudanças na postura durante o deslocamento ou em pé, além de causar diminuição do consumo de alimentos, redução da produção de leite e também problemas reprodutivos. É comumente relatada em sistemas de produção confinados, mas animais em pastejo também podem apresentar claudicação.

                Fonte: Santafé Agroinstituto

O objetivo desse estudo foi verificar os efeitos causados por afecções infecciosas e não infecciosas do casco em vacas leiteiras em pastejo sobre o escore de locomoção, atributos fisiológicos, limiar de dor e variáveis termográficas e avaliar sua melhora após o casqueamento e tratamento corretivo.

O experimento foi conduzido durante o verão e outono em uma fazenda comercial no sul do Brasil. Foram utilizadas 34 vacas em lactação, 28 da raça holandesa e 6 da raça Jersey. As vacas tinham de 4 ± 5 ​​anos, pesavam 614 ± 187 kg e estavam com 176 ± 429 dias de lactação. As vacas eram ordenhadas duas vezes ao dia, com uma média de produção de 20 a 25 litros/dia/animal, os animais foram mantidos em pastagens de Tifton (Cynodon spp.) com acesso livre a água e sombra natural. A suplementação era feita com silagem de milho, feno, casca de soja, concentrado comercial e mistura mineral, a qual era fornecida duas vezes ao dia.

O escore de locomoção foi reduzido em média em 1,5 pontos (1 = marcha normal, 5 = severamente manca) após o casqueamento e tratamento dos cascos afetados. 

O casqueamento reduziu a sensibilidade à pressão nos cascos de vacas com doenças não infecciosas (úlceras de sola, laminite), e tendeu a reduzir a sensibilidade à pressão de vacas com doenças infecciosas (dermatite). 

 

Tabela 1: Valores médios do escore de locomoção (EL), limiar nociceptivo de pressão, temperatura retal, frequência cardíaca, frequência respiratória, média temperaturas termográficas e temperaturas termográficas máximas medida na área lesionada nas avaliações pré (dia 0) e pós-corte (dia 7), diferença entre a termografia máxima temperaturas na área afetada do casco e na área saudável do casco contralateral nas avaliações pré (dia 0) e pós-aparamento (dia 7).



NS não significativo ( P  > 0,10)

** Diferença entre as medições realizadas pré e pós-corte

* Teste t pareado

 

Mensagem para levar pra casa:

 

As afecções no casco foram associadas com elevados escores de locomoção e maior resposta à dor, especialmente para vacas com afecções não infecciosas. 

O casqueamento e o tratamento  melhoraram o escore de locomoção e reduziram a sensibilidade à dor.

 

Artigo Base:

 

PASSOS, L. T. et al. (2017). Dairy cows change locomotion score and sensitivity to pain with trimming and infectious or non-infectious lesions. Trop Anim Health Prod. v.49; p. 851–856. Doi:10.1007/s11250-017-1273-0