quinta-feira, 23 de julho de 2020

A importância da participação dos produtores em pesquisas científicas

Escrito por: Aline Cardoso Vieira a

                    Vivian Fischer b

a Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da UFRGS.

b Professora Titular do Departamento de Zootecnia da UFRGS, Doutora em Zootecnia.


Segundo o dicionário Ciência é o “corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e formulados metódica e racionalmente”. No Brasil, a ciência é realizada por inúmeros pesquisadores que diariamente, dedicam suas vidas às suas pesquisas e análises, produzindo inovações nas mais diversas áreas do conhecimento como saúde, agrarias, tecnologia, educação e sociologia, entre outras.

Mas hoje, caro leitor, não quero falar sobre as inovações produzidas pela ciência, mas sim sobre quem possibilita que as pesquisas sejam realizadas e por quem realizamos as pesquisas. Vejamos o exemplo do Compost barn, embora seja um sistema de produção utilizado desde meados dos anos 80 em alguns países, foi descrito cientificamente somente em 2007 (Radavelli). Os primeiros estudos publicados sobre o compost barn foram os de Barberg et al. (2007) e  Janni et al. (2007). Nesses estudos os autores descrevem o sistema de alojamento, o dimensionamento do galpão, o tipo de piso e da cama utilizados. Esses estudos abriram portas para outros pesquisadores que seguiram estudando o sistema quanto ao conforto, saúde e bem-estar das vacas, produção e qualidade de leite, substratos para a cama, custo do sistema e muitos outros aspectos. Mas além do empenho do pesquisador em avaliar se o compost barn é capaz de melhorar o conforto e a produção dos animais e a lucratividade do produtor,  a disponibilidade de produtores voluntários, que permitem que esses estudos sejam realizados em suas fazendas é extremamente importante e necessária. Barberg et al. (2007) só puderam realizar seu estudo porque 12 produtores de Minnesota – USA, aceitaram participar do estudo e permitiram que os pesquisadores tivessem acesso aos seus compost barns. Um estudo de Mayer & Kammel (2008) sobre a modernização de fazendas leiteiras em Wisconsin – USA, avaliou 99 fazendas, ou seja, só foi possível de ser realizado porque houve produtores de leite dispostos a participar da pesquisa.

No Brasil, ainda são relativamente poucos os produtores que estão dispostos a participar de uma pesquisa cientifica, o que limita a produção cientifica na universidade não consegue avaliar a realidade de cada produtor e assim fica agropecuária. Frequentemente a experimentação científica utiliza um número limitado de animais ou pequenos espaços. Um intercâmbio maior entre o setor produtivo, aportando recursos e estabelecendo suas demandas traria benefícios a todos os agentes envolvidos.

Muitas pesquisas não envolvem procedimentos complexos com os animais, como por exemplo, aquelas sobre o enriquecimento ambiental, como a utilização de sombrite ou sombra natural para proporcionar sombra aos animais em pastejo. Existem, também, pesquisas muito simples em que o produtor precisa apenas responder a questionários. Entretanto, embora possam parecer simples, essas pesquisas podem trazer informações interessantes e aplicáveis ao setor produtivo. Portanto uma maior aproximação entre a universidade, técnicos e produtores rurais é desejável e necessária.

 

Mensagem para levar para casa:

·         Se você for convidado a participar de uma pesquisa, participe!

·         A participação do produtor nas pesquisas cientificas é importante e necessária

·         O benefício de participar de uma pesquisa talvez não seja imediato, mas trará frutos futuros

 

Se você quiser participar de uma pesquisa agora mesmo, você pode!

 

Nosso grupo está realizando uma pesquisa sobre a utilização de tecnologias de monitoramento do comportamento animal e você pode ajudar muito respondendo o questionário acessando o link a baixo:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfHSyOu8v-qVjGn8FEQE8M2e4lZDSCtMHyhkyCRVOC1q0icqg/viewform?usp=sf_link

 Essa pesquisa é anônima, ou seja, sua identidade não será revelada.

 

Referências

Barberg, A. E., et al. “Compost Dairy Barns in Minnesota: A Descriptive Study.” Applied Engineering in Agriculture, vol. 23, no. 2, 2007, pp. 231–38.

Janni, Kevin A., et al. “Compost Dairy Barn Layout and Management Recommendations.” Applied Engineering in Agriculture, vol. 23, no. 1, 2007, pp. 97–102.

Mayer, M. W., and D. W. Kammel. “2008 Wisconsin Dairy Modernization Survey.” University of Wisconsin-Extension, 2008, pp. 1–18.

Radavelli, Willian Mauricio. Caracterização Do Sistema Compost Barn Em Regiões Subtropicais Brasileiras. Vol. 89, Centro Educacional Do Oeste - Udesc/Oeste, Programa De Pós Graduação Em Zootecnia, Universidade Do Estado De Santa Catarina – Udesc, 2018.


quarta-feira, 15 de julho de 2020

Mudanças no comportamento alimentar e no consumo de concentrado de novilhas leiteiras provocados pela adição de extrato de orégano a dieta.

Escrito por: Juliany Ardenghi Guimarães  a

        Vivian Fischer b

a Graduanda no curso de Zootecnia na UFRGS.

b Professora Titular do Departamento de Zootecnia da UFRGS, Doutora em Zootecnia.



A criação de novilhas leiteiras para reposição, sob um sistema de produção intensivo é cara, demanda mão de obra em larga escala (Lohakare et al.,2012) e geralmente requer a antecipação da idade no primeiro parto sem prejudicar o desenvolvimento corporal e a futura produção de leite (Macdonald et al., 2005). As práticas para otimizar esse processo podem incluir o uso de fitoquímicos, que podem melhorar aspectos relacionados à saúde animal, degradabilidade e produção de gases no rúmen e ganho de peso.

   O uso do extrato de orégano (Origanum vulgare) pode modificar o metabolismo ruminal devido às suas ações antimetanogênicas (Lin et al., 2013). Os principais óleos essenciais contidos no orégano são o carvacrol  e timol (Baser, 2008).  



    A partir da hipótese de que o extrato de orégano pode afetar o comportamento alimentar e a ingestão de alimentos, foram avaliados parâmetros fisiológicos, comportamento alimentar, consumo de matéria seca e desempenho de novilhas leiteiras recebendo doses crescentes de extrato de orégano na dieta (Tabela 2)

Trinta e duas (32) novilhas da raça Holandesa foram distribuídas de maneira aleatória em quatro tratamentos: C = controle, sem adição de Extrato de orégano (EO); EO2.5, EO5.0 e EO7.5, que receberam uma dose diária de 2,5, 5,0 e 7,5 gramas de extrato de orégano (EO) misturados no concentrado, respectivamente.

                           

 

 


 A inclusão do extrato de orégano não afetou os parâmetros fisiológicos, como pH da urina, temperatura retal e frequência respiratória (𝑃> 0,05), mas alterou a frequência cardíaca (𝑃 <0,05). (Tabela 3).

 


   A inclusão de OE no concentrado não alterou as chances de ocorrência de vocalizações, assim como os comportamentos de tossir, cheirar, enrolar a língua ou interromper a ingestão do concentrado, não influenciando o tempo gasto em ingerir a silagem e feno. Os animais que receberam 7,5g de extrato de orégano por dia apresentaram um tempo prolongado para se aproximar do cocho de ração, e demoraram 6% a mais que os outros grupos para consumirem o concentrado, porém o tempo para começar a comer foi praticamente zero, o que pode indicar a ausência de efeitos negativos do carvacrol no apetite dos animais.

 


 Mensagem para levar pra casa:

O extrato de orégano tem sabor e cheiro característicos e, quando usado como tempero para novilhas leiteiras, pode alterar o comportamento e a ingestão de alimentos.

Nessas doses utilizadas, até 7,5 g/animal/dia, o consumo de alimentos e o ganho de peso dos animais não foram afetados.

 

Artigo base:

G. J. Kolling; D. M. Panazzolo; A. M. Gabbi; M. T. Stumpf; M. B. Passos; E. A. Cruz and V. Fischer. Oregano Extract Added into the Diet of Dairy Heifers Changes Feeding Behavior and Concentrate Intak. The Scientific World Journal, vol 2016, Article ID 8917817, 6 pages, 2016,

 

Outras referências:

J. D. Lohakare; K.-H. Su¨dekum and A. K. Pattanaik. Nutrition- induced changes of growth from birth to first calving and its impact on mammary development and first-lactation milk yield in dairy heifers: a review. Asian-Australasian Journal of Animal Sciences, vol, 25, no, 9, pp, 1338–1350, 2012.

K. A, Macdonald; J. W. Penno; A. M. Bryant and J. R. Roche. Effect of feeding level pre- and post-puberty and body weight at first calving on growth, milk production, and fertility in grazing dairy cows. Journal of Dairy Science, vol, 88, no, 9, pp, 3363– 3375, 2005.

B. Lin; Y. Lu; A. Z. M. Salem; J. H. Wang; Q. Liang and J. X. Liu. Effects of essential oil combinations on sheep ruminal fermentation and digestibility of a diet with fumarate included. Animal Feed Science and Technology, vol, 184, no, 1-4, pp, 24–32, 2013.

K. H. C. Baser. Biological and pharmacological activities of carvacrol and carvacrol bearing essential oils. Current Pharma- ceutical Design, vol, 14, no, 29, pp, 3106–3119, 2008,